Fala-me de Amor

Falais baixo se falais de amor - by Shakespeare

quarta-feira, março 02, 2005

Rigorosamente, não é possível dar uma definição do amor. Amor é um vocábulo polissêmico, senhor de uma vastíssima escala de genitivos e também senhor de nominativos vários, chegando a incluir no próprio espaço. De fato, são tantas as dimensões, tantos os matizes, tantos os elementos da incidência de vários fatores uns sobre os outros que uma real delimitação conceptual se torna, na prática, impossível.

O AMOR EGOÍSTA
Há um amor de posse, disseminado na sociedade, que se traduz pela violência dos dias atuais.

AMOR RACIONAL
por Sócrates num díálogo com Agatão : É de tal natureza o Amor que é amor de algo ou de nada?... Será que o Amor, aquilo que é amor, ele o deseja ou não?... Não é isso então o amar o que ainda não está à mão nem se tem, o querer que, para o futuro, seja isso que se tem conservado consigo e presente?...

O amor é o estado em que melhor as pessoas vêem as coisas como realmente elas são.
(Aristóteles)

Amamos geralmente as mulheres belas por inclinação; as feias por interesse; as boas, por raciocínio. (Amelot de la Houssaye)

O amor é um sórdido embuste pelo qual a natureza nos leva a continuar a espécie. (W. Somerser Maugham)

O amor é o sentimento dos seres imperfeitos, posto que a função do amor é levar o ser humano à perfeição. (Aristóteles)

Quem começa a entender o amor, a explicá-lo, a qualificá-lo e quantificá-lo, já não está amando. (Roberto Freire)

"O amor nada dá senão de si próprio e nada recebe senão de si próprio. O amor não possui e não se deixa possuir, pois o amor basta-se a si mesmo." (Gibran Kahlil Gibran)

O amor é o triunfo da imaginação sobre a inteligência. (Henry encken)

O amor é uma aspiração à plenitude do ser, tanto dos sentidos como da inteligência. (Tristão de Ataíde)

A grandeza do amor está na impossibilidade de sua catalogação, cristalização, definição, congelamento em fórmulas, formas e fôrmas. (Paulo A. M. Barros)


O AMOR SEGUNDO O ESPIRITISMO
Allan Kardec, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, ensina-nos que o amor resume inteiramente a doutrina de Jesus. Diz-nos que "no início o homem não tem senão instintos; mais elevado e corrompido, só tem sensações; mais instruído e purificado tem sentimentos; e o ponto delicado do sentimento é o amor, não o amor no sentido vulgar do termo, mas esse sol interior que condensa e reúne em seu foco ardente todas as aspirações e todas as revelações sobre-humanas". (Kardec, 1984, p. 146)

AMOR DIVINO
O conceito de caritas, a princípio limitado ao ‘amor que Deus nos tem’ (S. João I-IV, 16) foi depois estendido ao amor desinteressado a Deus e aos seus semelhantes. Mas, já nesse tempo caritas (appetitus boni, ou amor Dei, ou amor espiritualis) estava em acentuado contraste com as diferentes formas de amor ‘sensual’ incluídas no conceito de cupiditas (appetitus mali, ou amor mundi, ou amor carnalis).

O amor conjugal, o amor materno, o amor filial, o amor fraterno, o amor à pátria ou à raça, todos são raios refratados do Amor Divino. Todos eles se expressam ainda muito mais por sensações, porque a Humanidade se acha presa aos ditames da matéria.



AMOR AO PRÓXIMO
Na raiz de quase todas as misérias materiais e, sobretudo, morais, está uma falta de amor, uma fome de afeição que não foi satisfeita. (Georges Arnold)

AMOR CORTÊS, AMOR ROMANTICO, AMOR ETERNO

AMOR PERFEITO
Para fazer uma obra de arte não basta ter talento, não basta ter força, é preciso também viver um grande amor. (Wolfgang Amadeus Mozart)

O verdadeiro amor não está nas palavras mas nas ações, e só o amor pode conferir-lhe a verdadeira sabedoria. Conde Leon Tolstoi

AMOR CONJUGAL

O amor conjugal ainda muito identificado com o instinto sexual e, expressando-se predominantemente no campo das sensações, é, não obstante, representação do Amor em expansão.

"O amor é um crime que não pode se realizar sem cúmplice."
(Charles Baudelaire)

O amor é o único jogo no qual dois podem jogar e ambos ganharem. (Erma Freesman)

Amor é uma tarefa a dois e um aprendizado ininterrupto. É ele que dá sentido ao desejo e enraíza a paixão. (Affonso de Sant'Anna)

Amar não é fazer coisas extraordinárias ou heróicas, mas fazer coisas ordinárias com ternura. (J. Vanier)

Ao contrário do ouro e do barro, o verdadeiro amor, dividido, não diminui. (Percy Shelley)

AMOR A PRIMEIRA VISTA
Assim que se olharam, amaram-se; assim que se amaram, suspiraram; assim que suspiraram, perguntaram-se um ao outro o motivo; assim que descobriram o motivo, procuraram o remédio. (Shakespeare)

AMOR LIVRE

AMOR CARNAL
Que pode ser sub entendido como a satisfação dos desejos físicos ou carnais, considerando o corpo o veículo das sensações da natureza desse amor.

O sexo é sagrado em si mesmo, pois suas manifestações obedecem ao plano geral de multiplicação da vida traçado por Deus, mas vive o homem um momento evolutivo ainda muito próximo das experiências sexuais herdadas na passagem pelo reino animal e, por isso mesmo, está sob o domínio das paixões, às quais não aprendeu a controlar. As perversões sexuais nascem de nós mesmos, da nossa inferioridade. Devemos ao sexo a formação dos tesouros afetivos do lar e compete-nos honrar os compromissos de natureza sexual, com todas as forças da alma, mesmo porque é por ele que, não só efetuamos a continuidade da espécie no mundo, como também recebemos forças dinâmicas que nos podem sustentar a vida espiritual e física.


O amor carnal é o início de um aprendizado de vida, degrau necessário para o alcance do amor espiritual (do ponto de vista filosófico). (Elane Tomich)

Dentre meus tantos pecados, há uma qualidade de estimação, que insiste em existir em mim, qual jóia de família, engastada em alguma veia dissidente do meu coração. Nunca culpei alguém, pelos meus erros. Bem dito, maiores que meus acertos...
Quando erro, em pensamentos palavras e obras, por desacertos de amor, que de desamor estamos doentes, saio em busca de mim, e tento o difícil resgate de quem se afoga no azul, perdendo na respiração, o ar de esperança do verde, olhar sem metas, como na grande floresta.
Sempre volto à praia... exausta, cansada, mas viva.
Deito-me na areia macia da reflexão e penso em ganhar chão firme, na difícil trilha da metamorfose.
Tantas vezes fui borboleta, paixão tão grande quanto uma dízima periódica e tantas vezes me vi larva, recolhida e pensativa, pequena como a certeza.
Tenho um pensamento estranho que tento explicar ao meu em torno. Normalmente sou mal sucedida. Falando sozinha, acabo me ouvindo.
Pois que falar a sós, não é sandice, mas lucidez de cura, quando o turbilhão da crise nos envolve, para testar nossos vícios de renascer ao morrer.
Este pensamento, esta idéia, que tenta sua configuração em conceito, é tão obscura, que ainda tenho que dela fazer prosa, pois que a sábia simplicidade da concisão poética me é negada...
Desculpas, peço! Se muito procuro palavras, é porque engatinho na compreensão do meu desejo. E como é grande este desejo! Tão grande, que mal cabe em mim...
Um erotismo, escultura abstrata do encontro de almas que buscam fundirem-se em suposta unicidade.
Chamei meu companheiro, de muitas faces, para ser meu parceiro, na busca deste fogo de Prometeu e que me amparasse no difícil aprendizado de ser mulher. Em contrapartida, eu o ajudaria no desvendamento do que é ser homem e juntos brincaríamos com esfinges, mitos e faríamos sinfonias de teoremas. Nunca, eu soube dizer direito.
Em contrapartida, ele quis me ensinar-me acrobacias sexuais para, através da carne, extasiar-se por segundos e viver da lembrança deste breve espasmo.
Muito pouco: eu queria conhecer a alma masculina, no descobrimento de mim, na leitura da mulher, pelo meu parceiro de muitas faces.
Da carne, estrela infinita obedecendo as normas do espírito, cumpriríamos todos os rituais mundanos, como uvas na língua e vinho escorrendo pela boca... Sexo rápido à beira do fogão ou dançando um tango no Viejo Almacén. Do espírito, alimentando a fome atávica de existir, repetiríamos os rituais do amor primitivo, para sempre puro em devassidão sem limites.
Fico assuntando se não seria deste chão que brotaria a delicadeza de mãos entrelaçadas no medo de ir longe, para atravessarmos juntos, as pontes pênseis dos nossos infernos.
O orgasmo que vem do amor, não tem tempo nem espaço, e eu penso que é onde as almas gozam de um jeito tão infinitamente forte que é como caminhar na perfeição de um círculo, onde nas margens, nos vigiam origem e futuro da humanidade a um só tempo.
A alma goza no corpo, carne que se eterniza saborosa, numa maciez de tal tamanho e conforto, que coloca no mesmo lóculo este mistério do êxtase da matéria, o aperto de mão dos amantes e a delícia do calor dos corpos casados, no silêncio da carne pacificada, Então, como Lúcifer é expulso o medo de viver desse paraíso.
Carne de alma, alma da carne onde por sulcos e cicatrizes por onde escorreram a vida, marcas tão bonitas como as manchas lilases que o amor deixa no escondido do banho matinal. Desenhos rudes, num desafio à lapidação dos diamantes dos sentimentos

Não sei se é chegada a hora deste encontro!.. E, como não culpo ninguém pelos meus pecados de desentendimento e de não saber de saber de amor, e dele falar, vagarei sozinha por uma estrada bonita mas com tal bruma, que não sei se reconhecerei, ao final, aquela menina que quis amar carne abstrata, alma de sangue, de um só e eterno amor!
Ai que pedido precoce eu tive. De pedir à carne os prazeres da alma e à alma a devassidão da carne.
Será que o tempo ouviu minha súplica ao moto-contínuo do vento?




"Existe uma necessidade absouluta de se sentir desejado e neste círculo do desejo é muito raro que dois desejos se encontrem e se correspondam, o que é uma das grandes tragédias do ser humano." (Pedro Almovadar.)

Deixemos aos mortos a imortalidade da glória. Mas demos aos vivos a imortalidade do amor. (Rabindranath Tagore)