Godiva
Esperando o comboio de Coventry
Entre guardas e grooms, olhei, da ponte,
Os campanários três e aí dei forma
À antiga lenda da cidade assim:
Não só nós, frutos ultimos do tempo,
Que, num girar de rodas, do passado Rimos,
e que falamos de injustiças
E direitos, amamos bem o povo
E odiamos vê-los sobretributado.
Mas fez e suportou e dominou
Essa mulher que há mil anos, Godiva
Esposa desse duro conde, que era
Senhor de Coventry: porque, quando ele
Lançou impostos na cidade, e as mães
Com os filhos vieram e clamaram
- Se pagamos, há fome.,procurou-o
Onde entre cães sozinho passeava
No salão, com a barba ondeando vasta
E mais vasto o cabelo, e aí falou-lhe
Das lagrimas do povo - "se eles pagam,
Há fome", e ele fitou-a entrepasmado
E respondeu - "Não sacrificarias
À causa destes uma dor de dedos
Decerto?" e ela disse - "morreria" -
Ele riu e jurou por Pedro e Paulo,
Brincou-lhe com o brinco de brilhantes,
Depois - "sim, sim, sim, falas". -"Ai" - disse ela;
-"Mas provai-me o que há que eu não faria."-
De um peito como a mão de Esaú rude
disse ele então - "Se queres que retire
O imposto que lancei, cavalga nua
Através da cidade" - e, desdenhoso,
Com largos passos entre os cães saiu.
Só, então, as paixões da sua alma
Como ventos que mudam e se opõem
Durante uma hora se entreguerrearam
Té que venceu a compaixão. Mandou
Um arauto anunciar, trombeteando,
A dura condição, mas que ela iria
Para isentar o povo; e pelo amor
Que lhe tivessem, té o meio dia
Ninguém pisasse a rua, nem olhasse
Passando ela, nem ninguém saísse,
Fechada todas as portas e janelas.
Então,no seu mais íntimo aposento
As águias presas, desligou do cinto,
Dom do Conde, parando a cada instante,
Qual lua no verão meio-encoberta:
Ondeando até ao joelho, desprendeu
O cabelo; depois, despiu-se à pressa,
E, deslizando pela escadaria,
Como um raio de sol furtivo, foi
De coluna a coluna até chegar
Ao portão, e o cavalo ajaezado
Em púrpura com o ouro dos brasões.
Vestida de pureza foi, e o ar
Parecia escutar em torno de ela,
E o vento mal soprava de receio.
As pequenas cabeças do repuxo
Tinha para elas olhos, o rarefeiro
Ladrando enrubescia-a, o trotear
Do cavalo pulsava-lhe em horror
Nas veias; a cegueira das paredes
Era cheia de fendas, e de cima
Apinhadas, as telhas espreitavam;
Mas ela tudo suportou até
Que por fim viu nos campos, através
Das góticas arcadas na parede
O branquear da flor do sabugueiro.
Voltou então vestida de pureza:
E um vilão, lama desagradecida,
Provérbio ignóbil a vindouros anos
A medo verrumando a porta, olhou
Mas os seus olhos, inda sem ter visto
Murcharam-lhe nas órbitas, caindo
Ante ele. Assim quem guarda os nobres d'alma,
Apagou um sentido mal usado,
E ela seguiu, insciente: então, a um tempo,
Com doze badaladas sonoras
De cem torres voou o meio-dia
Lentamente, e ela só então entrou
No quarto, donde, de coroa e vestes
Nobres, saindo em bem, e ao encontro
Indo, do seu senhor tirou o imposto
E ganhou para si um nome eterno
Alfred Tennyson
Entre guardas e grooms, olhei, da ponte,
Os campanários três e aí dei forma
À antiga lenda da cidade assim:
Não só nós, frutos ultimos do tempo,
Que, num girar de rodas, do passado Rimos,
e que falamos de injustiças
E direitos, amamos bem o povo
E odiamos vê-los sobretributado.
Mas fez e suportou e dominou
Essa mulher que há mil anos, Godiva
Esposa desse duro conde, que era
Senhor de Coventry: porque, quando ele
Lançou impostos na cidade, e as mães
Com os filhos vieram e clamaram
- Se pagamos, há fome.,procurou-o
Onde entre cães sozinho passeava
No salão, com a barba ondeando vasta
E mais vasto o cabelo, e aí falou-lhe
Das lagrimas do povo - "se eles pagam,
Há fome", e ele fitou-a entrepasmado
E respondeu - "Não sacrificarias
À causa destes uma dor de dedos
Decerto?" e ela disse - "morreria" -
Ele riu e jurou por Pedro e Paulo,
Brincou-lhe com o brinco de brilhantes,
Depois - "sim, sim, sim, falas". -"Ai" - disse ela;
-"Mas provai-me o que há que eu não faria."-
De um peito como a mão de Esaú rude
disse ele então - "Se queres que retire
O imposto que lancei, cavalga nua
Através da cidade" - e, desdenhoso,
Com largos passos entre os cães saiu.
Só, então, as paixões da sua alma
Como ventos que mudam e se opõem
Durante uma hora se entreguerrearam
Té que venceu a compaixão. Mandou
Um arauto anunciar, trombeteando,
A dura condição, mas que ela iria
Para isentar o povo; e pelo amor
Que lhe tivessem, té o meio dia
Ninguém pisasse a rua, nem olhasse
Passando ela, nem ninguém saísse,
Fechada todas as portas e janelas.
Então,no seu mais íntimo aposento
As águias presas, desligou do cinto,
Dom do Conde, parando a cada instante,
Qual lua no verão meio-encoberta:
Ondeando até ao joelho, desprendeu
O cabelo; depois, despiu-se à pressa,
E, deslizando pela escadaria,
Como um raio de sol furtivo, foi
De coluna a coluna até chegar
Ao portão, e o cavalo ajaezado
Em púrpura com o ouro dos brasões.
Vestida de pureza foi, e o ar
Parecia escutar em torno de ela,
E o vento mal soprava de receio.
As pequenas cabeças do repuxo
Tinha para elas olhos, o rarefeiro
Ladrando enrubescia-a, o trotear
Do cavalo pulsava-lhe em horror
Nas veias; a cegueira das paredes
Era cheia de fendas, e de cima
Apinhadas, as telhas espreitavam;
Mas ela tudo suportou até
Que por fim viu nos campos, através
Das góticas arcadas na parede
O branquear da flor do sabugueiro.
Voltou então vestida de pureza:
E um vilão, lama desagradecida,
Provérbio ignóbil a vindouros anos
A medo verrumando a porta, olhou
Mas os seus olhos, inda sem ter visto
Murcharam-lhe nas órbitas, caindo
Ante ele. Assim quem guarda os nobres d'alma,
Apagou um sentido mal usado,
E ela seguiu, insciente: então, a um tempo,
Com doze badaladas sonoras
De cem torres voou o meio-dia
Lentamente, e ela só então entrou
No quarto, donde, de coroa e vestes
Nobres, saindo em bem, e ao encontro
Indo, do seu senhor tirou o imposto
E ganhou para si um nome eterno
Alfred Tennyson
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