Fala-me de Amor

Falais baixo se falais de amor - by Shakespeare

sábado, fevereiro 26, 2005

Amor Platônico

O amor platônico é um amor à distância, que não se aproxima, não toca, não envolve. Reveste-se de fantasias e de idealização. O objeto do amor é o ser perfeito, detentor de todas as boas qualidades e sem máculas.

Há, na doutrina platônica sobre a alma, um outro elemento importante: Eros, o amor. Platão ensinava que Eros é uma força que instiga a alma para atingir o bem; ele não cessa de mover a alma enquanto essa não for satisfeita. O bem almejado é determinado pela parte da alma que prevalecer sobre as outras. Se fosse a sensual, por exemplo, a alma não buscaria um bem verdadeiro, pois procuraria a satisfação dos desejos que Platão julgava os mais baixos, como o apetite e a ganância. Segundo o filósofo, o melhor é que a alma seja conduzida por sua parte racional e que utilize a energia inesgotável do amor para se dirigir ao bem verdadeiro - que compreende a justiça, a honra, a fidelidade; em suma, as virtudes supremas.

Para Platão, em "O Banquete", no personagem de Sócrates, o amor é a insuficiência de algo e o desejo de conquistar aquilo de que sentimos falta. O amor dirige-se para o bem, cuja aparência externa é a beleza. Existiriam muitas formas de beleza, mas a sabedoria seria a maior de todas. Platão defende que o verdadeiro amor seria a afeição elevada a um plano ideal que transcende o contato físico, mas não o exclui.


O Mito Eros & Psique

Um rei e uma rainha tinham três filhas. As duas mais velhas, embora bonitas, não despertavam nos homens a paixão arrebatadora que lhes causava Psique, a princesa mais jovem, dotada de descomunal beleza. Julgando-se incapazes de pedi-la em casamento, por considerá-la divina, os homens passaram a fazer-lhe oferendas, com o que se esvaziaram os templos consagrados a Afrodite. Menosprezada, a deusa em sua cólera resolve castigar a pobre mortal, e ordena a seu filho Eros que a atinja com uma de suas flechas, de modo a fazer com que sua rival se apaixonasse por algum monstro. Temeroso da ira divina, o casal se antecipara consultando o Oráculo de Apolo em Mileto. O vaticínio fora claro: deviam abandonar a princesa à beira de certo penhasco, de onde ela seria levada por uma terrível criatura. Resignados, os reis cumprem sua pena. Mas Eros, que havia se apaixonado por Psique à primeira vista, dera ordens a Zéfiro, o vento, para que este arrebatasse a moça e a deixasse salva em seu palácio secreto, sem luzes, todo feito de ouro, prata, cedro e marfim. Naquela mesma noite Eros se apresenta à princesa, faz dela sua mulher, mas a proíbe terminantemente de ver sua face, e promete voltar visitá-la todas as noites, sempre coberto pela escuridão. Psique passa a viver seus dias sozinha, cercada apenas por uma multidão de Vozes que lhe atendiam todos os desejos.

Mas a deusa Fama, cujo nome grego significa "divulgar", revela às irmãs de Psique onde ela se encontra, e ambas resolvem visitá-la. Eros, em seu pressentimento adverte Psique de que alguma desgraça adviria por intermédio de suas irmãs, mas a esposa, saudosa demais, consegue convencê-lo a recebê-las no palácio. Eros cede, mas exige que Psique renove a promessa de nunca desejar ver seu rosto, mesmo que as irmãs a convençam do contrário.

O encontro a princípio foi só deslumbramento, mas aos poucos a inveja das irmãs preteridas pelo destino se transforma em desejo de vingança. Numa segunda visita, estando Psique grávida, as irmãs passam a envenená-la dizendo que seu marido não poderia nunca ser um homem, senão uma serpente de mil anéis que apenas esperava pelo oportuno momento para devorá-la junto com a criança concebida em seu ventre. Dão a ela uma lâmpada a óleo e uma adaga, e insistem para que à noite, depois de se amarem, tão logo o marido dormisse, ela iluminasse sua face e o matasse caso constatasse estar deitando com um monstro.

Angustiada, Psique segue à risca os terríveis conselhos. Com a adaga numa das mãos e a lâmpada na outra, aproxima-se e ilumina o rosto de seu amo. Hipnotizada diante de divina beleza, treme e cai de joelhos, ferindo-se numa flecha do marido guardada ao lado do leito, ao mesmo tempo que derrama óleo quente sobre o ombro do amado. Com um grito de dor, Eros acorda e seu semblante se entristece; sem dizer palavra, sobe e desaparece nas nuvens, separando-se de Psique, agora mais do que nunca ferida pela paixão eterna.


Mas não tema o leitor; em nome do amor, nosso mito acabará bem.

Eros retorna para junto de Afrodite, para que esta lhe curasse sua ferida. A deusa descobre então que vinha sendo traída pelo filho e se enfurece. Psique, por sua vez, procurando resgatar o amor perdido, oferece-se como escrava de Afrodite. A deusa, disposta a humilhá-la, promete-lhe seu filho em troca de quatro tarefas impossíveis. Primeiramente pede-lhe que separe por espécie numa só noite uma enorme quantidade de grãos de trigo, cevada, milho, lentilhas, favas etc... Ajudada por um batalhão de formigas, Psique consegue o feito. Irritada, Afrodite pede a Psique que lhe traga flocos de lã de ouro de ovelhas selvagens venenosas. Um caniço verde lhe sopra o que fazer, ensinando-a colher a lã ao entardecer, quando as ovelhas se amansavam num regato em meio aos arbustos; e Psique poderia colher os flocos presos em seus galhos. Terceira tarefa: buscar água da nascente do Estige, no alto de um rochedo guardado por terríveis dragões. Desta vez será uma águia quem virá em sua ajuda, colhendo para ela uma jarra dessa fonte. Afrodite quase enlouquece, e cobra-lhe um último castigo. Exige que entre no Hades, reino dos mortos, para que fosse buscar com Perséfone uma caixinha com o pó da juventude. Uma torre aconselha Psique quanto às armadilhas do percurso, e Psique cumpre bem sua perigosa viagem. Recebe em suas mãos a encomenda, mas já no caminho de volta, não resistindo à idéia de experimentar o pó mágico com o qual ficaria eternamente bela para Eros, abre a caixa, aspira seu conteúdo vazio; e desmaia para sempre num sono profundo.

E onde está o final feliz?, pergunta-se o leitor. Ora, entendamos primeiramente alguns aspectos psicológicos do mito.

Interessante notar que conquanto o amor seja divino, a alma, ainda que de nobre estirpe, é humana e mortal. Sua condição especial, entretanto, atrai a ira de Afrodite, deusa do prazer e da beleza, que, distinta de Psique por sua função estanque na ordem do cosmos, não pode evoluir; a ela não foi dada essa chance. Por isso quer banir de sua frente a princesa, representante da beleza anímica capaz de evoluir e transformar-se. Erro primário da deusa, a revelar também a sua imperfeição, foi enviar logo o Amor para destruir a vida, algo impossível por acepção natural da virtude.

Eros não só protege Psique como se apaixona por ela, e a prende em seu paraíso idílico, onde a alma passa a viver indiferenciada. O palácio de ouro, prata, cedro e marfim, revela a preciosidade do estado puro da alma que, inconsciente de si mesma, está sozinha. Ela não conhece a fonte de seus prazeres nem aquilo que, oculto pela sombra da noite, lhe faz bem e lhe basta. Ora, são suas irmãs, ícones das forças matriarcais reprimidas, que assumem relevante papel, sem o qual a alma nunca acordaria nem deixaria o Éden da inocência. Elas a forçam a romper os tabus e levam-na à verdadeira experiência da sedução, dirigindo-lhe seus passos. A alma segue à risca sua natural tendência, e caminha em direção ao abismo da consciência. A queda nessa nova realidade ocorre quando Psique quebra sua promessa e enxerga o rosto proibido. Em verdade, o que ela vê é sua própria face desconhecida, pois, apesar da falta cometida, ela descobre a beleza em seu ideal e perfeição, enxerga a realidade de que nos fala Sócrates no Banquete. Semelhante situação enfrenta o casal adâmico no Velho Testamento da tradição judaico-cristã, que, por seu pecado, é expulso do Éden. Notemos ainda que Psique deixou-se levar por sua submissão à imagem de uma serpente de mil anéis, correlata da serpente bíblica.

À luz da lâmpada, Psique entende que Eros sintetiza a união de seus mundos inferior e superior. Ao vê-lo partir, lança-se na dor do abismo na esperança de recolher-se a si mesma através da viagem que empreenderá ao mundo dos mortos. Auxiliada por sua própria consciência, ela se entregará à grande iniciação, ao processo de morte e renascimento pelo qual sofrerá sua metamorfose. A evolução da consciência acha-se aqui bem demarcada por quatro de seus aspectos que serão assimilados ao longo da jornada: as formigas (instintos primitivos), o caniço (sistema neuro-vegetativo), a águia (aspecto masculino profundo ou o animus) e a Torre (o feminino oculto ou a anima).

Mas por que fracassa Psique quando tem nas mãos a caixa da imortalidade, estando prestes a vencer o jogo? Ora, ela decide não entregar a Afrodite aquilo que conquistou com seu pleno sacrifício. A alma mortal, em conflito com a deusa, aceita atrair para si a maior das desgraças na tentativa extrema de alcançar ela própria a imortalidade, igualando assim sua condição a de seu amado divino. Psique tudo sacrifica pelo Amor, até a própria vida, e por isso é que vence e se transforma.

Aliviemos a tensão. Eros se aproxima de sua bela adormecida, guarda o sono de novo na caixa, e desperta Psique para levá-la consigo ao Olimpo.

Também ele está amadurecido; curado pelo sacrifício da princesa, nada mais precisa fazer às escusas de sua mãe. E o herói vai pedir autorização a Zeus para celebrar seu casamento. A divindade suprema reconhece o esforço da alma evoluída e transformada, e mostra a Afrodite o descabido de seu ciúme, pois Psique agora é transcendente, imortalizou-se em sua grande iniciação, tornando-se digna do banquete dos deuses.

***********************Eros, como todo herói, não foge à sua sina; sempre traz consigo uma alma apaixonada*************




Segue um poema:

Amor Platônico

Porquanto estiver ainda
Em meu peito
Esse amor não finda
No entanto
Esse amor que é tanto
Vai perecer comigo
É o meu castigo
Jamais tê-la
Jamais perdê-la
E tê-la para sempre
A todo momento
Em meu coração
Em meu pensamento.
Fernando T.


"A ausência diminui as pequenas paixões e aumenta as grandes, da mesma forma como o vento apaga as velas e atiça as fogueiras."
François de La Rochefoucault

"Só vale a pena viver na medida em que nossos gestos são gestos de amor, pois só o amor é absoluto, radical, transformante e profundamente unificante. Esse amor nos une em qualquer circunstância, tempo e lugar."
Carlos Alberto Libânio

"Amar não é aceitar tudo. Aliás: onde tudo é aceito, desconfio que há falta de amor."
Vladimir Maiakovski


Temer o amor é temer a vida e os que temem a vida já estão meio mortos."
Bertrand Russell


"Conservar algo que possa recordar-te seria admitir que eu pudesse esquecer-te"
Shakespeare


"Amar é admirar com o coração. Admirar é amar com o cérebro."
Theophile Gautier


"O amor é um conflito entre nossos reflexos e nossas reflexões."
Magnus Hirschfeld


"Na vida do homem, o amor é uma coisa a parte, na da mulher, é toda a vida."
Lord Byron

"O amor é como a guerra; fácil de começar, e muito difícil de terminar."
Ninon de Lenclos


"Onde o amor impera, não há desejo de poder; e onde o poder predomina, há falta de amor. Um é a sombra do outro."
Carl Gustav Jung


O amor é o triunfo da imaginação sobre a inteligência.
Henry encken


Amar não é fazer coisas extraordinárias ou heróicas, mas fazer coisas ordinárias com ternura.
J. Vanier


Amor é um não-sei-quê, que surge não sei de onde e acaba não sei como.
Jorge de Scudéry


"Tudo o que sabemos do amor, é que o amor é tudo o que existe."
Emily Dickinson


"O amor é a única paixão que não admite nem passado nem futuro."
Honoré de Balzac


"O verdadeiro amor não é o que perdoa nossos defeitos, mas aqueles que não o conhece."
Jacinto Benavente


"Na primeira paixão a Mulher ama o Amante; nas outras ama apenas o amor."
Lord Byron



O primeiro amor é um pouco de loucura e muita curiosidade.
George Bernard Shaw


O principal é deixar que flua sem vírgulas no caminho, pois o Amor é uma frase interminável que começa com maiúscula e se escreve de dentro para fora e vice-versa, e cuja leitura nunca termina, até que acaba.
Bruno Campel
"Não há segurança no amor. Sempre arriscamos a vida."
Elizabeth von Armins


"Amamos o desejo, não o desejado."
Nietzche


"A obediência a realidade significa uma debilidade no amor"
Anais Nin





"Quanto mais vazio está o coração, mais pesado ele é."
Amiel-Lapeyre



Quem disser que pode amar alguém pela vida inteira é porque mente
Florbela Espanca


Omnia vincit amor - o amor vence tudo.
Virgílio


O tempo é muito lento para os que esperam, muito rápido para os que têm medo, muito longo para os que sofrem, muito curto para os que se alegram. Mas para os que amam, o tempo não é.
Henry Van Dyke

sexta-feira, fevereiro 25, 2005

"Amor são duas solidões protegendo-se uma à outra."
Rainer Maria Rilke



Se não houver frutos, valeu a beleza das flores. . . Se não houver flores, valeu a sombra das folhas . . . Se não houver folhas, valeu a intenção da semente . . .
Henfil

É preciso sofrer depois de ter sofrido, e amar, e mais amar, depois de ter amado.
Guimarães Rosa


"Há cordas no coração humano que o melhor seria não fazê-las vibrar."
Charles Dickens


Somente quem passa pelo gelo da dor chega à inocência do amor.
Chiara Lubich


Vai, portanto, não hesites. Procura conquistar todas as mulheres. Em mil, haverá talvez uma para te resistir. E quer cedam, quer resistam, todas gostam de ser cortejadas. Mesmo se fores derrotado, a derrota será sem perigo. Mas por que serias repelido, já que toda volúpia nova parece mais gostosa e somos mais seduzidos por aquilo que não nos pertence? A colheita é sempre mais abundante no campo alheio, e o rebanho do vizinho tem as tetas mais grossas.
Ovídio, A Arte de Amar


Adormeci, pensando nele. E vi-o logo em seguida. Ah! Se tivesse sabido que era um sonho, nunca teria acordado
Ono No Komachi


Amar é uma mistura de alegria e medo; de paz por um lado e ameaça de guerra pelo outro. É pensar que a felicidade tem nome e endereço. É temer não estar à altura. É sofrer tanto quanto querer.
Bruno Campel


Não sou como a abelha saqueadora que vai sugar o mel de uma flor, e depois de outra flor. Sou como o negro escaravelho que se enclausura no seio de uma única rosa e vive nela até que ela feche as pétalas sobre ele; e abafado neste aperto supremo, morre entre os braços da flor que elegeu.
Roger Martin du Gard


As obras do amor são as únicas que pagam o sacrifício.
Capistrano de Abreu


O amor é uma flor delicada, mas é preciso ter a coragem de ir colhê-la à beira de um precipício aterrador."
Storm (João Teodoro Woldsen)

quinta-feira, fevereiro 24, 2005


O objeto amado me surge como por engano e nunca sei se esse engano persiste, porque o Amor que me invade sempre ultrapassa o que amo. (Antonio Carlos Mattos)

Nada lhe posso dar que já não existam em você mesmo.
Não posso abrir-lhe outro mundo de imagens, além daquele que há em sua própria alma. Nada lhe posso dar a não ser a oportunidade, o impulso, a chave.
Eu o ajudarei a tornar visível o seu próprio mundo, e isso é tudo.

(Hermann Hesse)

As Mil e uma Noites têm por pano de fundo o apogeu do mundo árabe alcançado durante o reinado de Harum-el-Raschid, quinto califa da dinastia dos Abácidas, século VIII d.C. Aladim e o gênio da lâmpada, Simbá, o marujo, e Ali Babá são alguns dos personagens que por três anos mantiveram viva Sherazade, até que, por fim, estando o califa completamente apaixonado por ela e transformado interiormente pela beleza de suas histórias, liberta-se de sua depressão, suspende a pena, e a pede em casamento. Os contos das "Noites Árabes" haviam servido a el-Raschid como verdadeira terapia! A propósito, este é o procedimento adotado desde a antigüidade pela medicina hindu, chamada Ayurveda, na qual os pacientes são convidados a meditar sobre contos de fadas para que suas mentes se purifiquem, condição prévia para que qualquer cura seja alcançada ?



quarta-feira, fevereiro 23, 2005

Godiva

Esperando o comboio de Coventry
Entre guardas e grooms, olhei, da ponte,
Os campanários três e aí dei forma
À antiga lenda da cidade assim:

Não só nós, frutos ultimos do tempo,
Que, num girar de rodas, do passado Rimos,
e que falamos de injustiças
E direitos, amamos bem o povo
E odiamos vê-los sobretributado.
Mas fez e suportou e dominou
Essa mulher que há mil anos, Godiva
Esposa desse duro conde, que era
Senhor de Coventry: porque, quando ele
Lançou impostos na cidade, e as mães
Com os filhos vieram e clamaram
- Se pagamos, há fome.,procurou-o
Onde entre cães sozinho passeava
No salão, com a barba ondeando vasta
E mais vasto o cabelo, e aí falou-lhe
Das lagrimas do povo - "se eles pagam,
Há fome", e ele fitou-a entrepasmado
E respondeu - "Não sacrificarias
À causa destes uma dor de dedos
Decerto?" e ela disse - "morreria" -
Ele riu e jurou por Pedro e Paulo,
Brincou-lhe com o brinco de brilhantes,
Depois - "sim, sim, sim, falas". -"Ai" - disse ela;
-"Mas provai-me o que há que eu não faria."-
De um peito como a mão de Esaú rude
disse ele então - "Se queres que retire
O imposto que lancei, cavalga nua
Através da cidade" - e, desdenhoso,
Com largos passos entre os cães saiu.

Só, então, as paixões da sua alma
Como ventos que mudam e se opõem
Durante uma hora se entreguerrearam
Té que venceu a compaixão. Mandou
Um arauto anunciar, trombeteando,
A dura condição, mas que ela iria
Para isentar o povo; e pelo amor
Que lhe tivessem, té o meio dia
Ninguém pisasse a rua, nem olhasse
Passando ela, nem ninguém saísse,
Fechada todas as portas e janelas.

Então,no seu mais íntimo aposento
As águias presas, desligou do cinto,
Dom do Conde, parando a cada instante,
Qual lua no verão meio-encoberta:
Ondeando até ao joelho, desprendeu
O cabelo; depois, despiu-se à pressa,
E, deslizando pela escadaria,
Como um raio de sol furtivo, foi
De coluna a coluna até chegar
Ao portão, e o cavalo ajaezado
Em púrpura com o ouro dos brasões.

Vestida de pureza foi, e o ar
Parecia escutar em torno de ela,
E o vento mal soprava de receio.
As pequenas cabeças do repuxo
Tinha para elas olhos, o rarefeiro
Ladrando enrubescia-a, o trotear
Do cavalo pulsava-lhe em horror
Nas veias; a cegueira das paredes
Era cheia de fendas, e de cima
Apinhadas, as telhas espreitavam;
Mas ela tudo suportou até
Que por fim viu nos campos, através
Das góticas arcadas na parede
O branquear da flor do sabugueiro.

Voltou então vestida de pureza:
E um vilão, lama desagradecida,
Provérbio ignóbil a vindouros anos
A medo verrumando a porta, olhou
Mas os seus olhos, inda sem ter visto
Murcharam-lhe nas órbitas, caindo
Ante ele. Assim quem guarda os nobres d'alma,
Apagou um sentido mal usado,
E ela seguiu, insciente: então, a um tempo,
Com doze badaladas sonoras
De cem torres voou o meio-dia
Lentamente, e ela só então entrou
No quarto, donde, de coroa e vestes
Nobres, saindo em bem, e ao encontro
Indo, do seu senhor tirou o imposto
E ganhou para si um nome eterno

Alfred Tennyson







terça-feira, fevereiro 22, 2005

Bilhete

Se tu me amas,
ama-me baixinho.

Não o grites de cima dos telhados,
deixa em paz os passarinhos.

Deixa em paz a mim!

Se me queres,
enfim,

.....tem de ser bem devagarinho,
.....amada,

.....que a vida é breve,
.....e o amor
.....mais breve ainda.

Mario Quintana



domingo, fevereiro 20, 2005

Fala-Me De Amor

Acabei por ter
Um fraco por ti
Que foi como veio
E eu não percebi

Pergunto como está
A velha certeza
Será que tu sabes
O que correu mal

É que hoje eu já sabia dizer

REFRÃO:
Ama- me,
leva- me p'ra lá do meu horizonte
Falando de amor
Fala- me de amor

Segue-me,
prende-me p'ra lá do meu horizonte
Falando de amor
Fala- me de amor

Quero te dizer
Que ainda estou aqui
Todo o tempo à espera
De ti

Quero te alcançar
E estou a pedir
P'ra ser como era
Quando te conheci

Santos e Pecadores